casei com a bicicleta

Por que eu me casei com a bicicleta

Rodrigo Del Claro

Essa é a história de amor que transformou a minha vida – e que pode inspirar a sua

Escreveu Fernando Pessoa que “só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são
ridículas”. Para não correr o risco do ridículo, encorajado pelo poeta, decidi escrever a minha história de como casei com a bicicleta, que é praticamente uma carta de amor.

A bem da verdade é que desde sempre eu flertei com a bicicleta. Quando criança, ela era a alegria dos domingos, meu brinquedo predileto. Na adolescência, descobri com a bike a liberdade! Porque com ela era possível ir mais longe, muuuito mais longe (mal sabia eu que a descoberta seria uma metáfora potente no futuro).

Os anos foram passando e fui me envolvendo mais. Como esportista, me apaixonei pela ideia de poder me exercitar e ao mesmo tempo me transportar facilmente pra onde quisesse. Esse combo poderoso que até hoje é das qualidades que mais gosto nela.

A vida de empresário e os filhos pequenos, porém, trouxeram a dependência do carro. Foi uma fase difícil pra magrela, que suportou sozinha na garagem do prédio minhas traições inconsequentes.

Como casei com a bicicleta?

Mas a paixão falou mais alto. Logo comecei a participar de competições, e o mundo do ciclismo me transformou definitivamente. Primeiro, o esporte, o prazer das corridas, dos treinos às cinco da manhã. E com eles os amigos ciclistas, os cafés da manhã sempre juntos. Nessa fase, descobri que além de esporte e saúde a bicicleta também é sinônimo de grandes amizades.

Com o tempo, ela foi fazendo parte da rotina. Comecei a usar a bike pra ir ao trabalho e logo caiu a ficha: é muito mais rápido e barato ir de bike! Assim, cada vez mais, o carro foi sendo deixado de lado e a bicicleta ganhando espaço.

A minha atração por ela só aumentava. Porque uma descoberta sempre levava a um insight. Fui me dando conta de como os trajetos se transformaram. Aquele mesmo caminho que eu costumava percorrer fechado atrás dos vidros do carro agora ganhava cor, ar fresco, vento no rosto. Passei a olhar pra cidade de um jeito diferente.

A magrela me ensinou uma nova maneira de habitar, de conviver. Quando saio com ela enxergo os detalhes. Uma casa, uma loja, uma árvore, todo dia é uma revelação. E os deslocamentos se transformaram em práticas de meditação. Um exercício mental de estar presente no aqui e agora.

Meu amor pela magrela

Com ela entendi que mais importante que o destino final é o caminho até ele. Com ela percebi que posso trocar o estresse do trânsito pela aventura da jornada.

Por isso tudo, já não conseguia ficar longe dela nem aos finais de semana. Fosse pra passear com os filhos na ciclovia, ir a um parque tomar água de coco ou fazer os treinos de estrada com os amigos, os famosos longões que chegam a durar sete horas.

E assim o relacionamento ganhou novo status. Meu comprometimento cresceu junto com o amor. Mas, de repente, a pandemia…

Achei que seria um momento difícil entre nós. Que nada! Estivemos mais juntos do que nunca. Com a magrela no rolo, passei a treinar intensamente, como forma de manter corpo e mente saudáveis, e acabei atingindo um objetivo antigo: emagreci dez quilos e cheguei no físico que eu desejava há anos.

Se não bastasse tudo isso, a bike se transformou na minha fonte de renda, no meu sustento, no foco do meu negócio. Há mais de três anos larguei a vida corporativa e passei a empreender no ramo do ciclismo ao fundar a Santuu.

Hoje a bicicleta é tudo pra mim. Transporte, esporte, saúde, exercício mental, meditação, negócio, prazer, sustentabilidade, mobilidade. Ela me ensinou a ver a cidade de um modo mais humanizado, a olhar mais pro outro, a exercitar a calma e a trabalhar por um mundo mais legal e inclusivo.

Eu me rendi! Hoje sou todinho dela, fiel e feliz da vida. E tem como não amar a bicicleta?  

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